quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O SUS E OS DINOSSAUROS



O humano foi criado para andar pela savana, dias caçando javali para comer, dias fugindo de ser comido pelos tiranossauros, um antepassado de predador maranhense. As mulheres tinham prazo de validade por isso os óvulos só eram viáveis até os 40 anos, e como ainda não tinham lido o kama-sutra, queimado sutiãs ou tomado pílula, não tinham outra função que não fosse a fornicação reprodutiva, embora não possamos negar que foram os movimentos dos quadris e não o polegar opositor que fez aquele homem rude e machista evoluir.


A evolução tecnológica e urbana e o filet de javali na gôndola do supermercado limitaram de forma acentuada o deslocamento e o homem tornou-se cada vez mais sedentário. Este programa de movimento mínimo (os casais já fazem sexo inercial) associado à mudança da oferta calórica tem ocasionado uma epidemia mundial de obesidade mais disseminada do que o moonwalker. Estima-se que 30 a 40% da população têm excesso de peso e pesquisa publicada internacionalmente pela Prof.ª Ana Mayra, da UEFS, mostra que 12% das crianças feirenses não deveriam mais estar vendo coca-cola nem em retrato. Lembremos que um adolescente obeso torna suas células adiposas, umas esfomeadas, “pocadas”, e que eles crescem, mas elas não voltam ao tamanho normal, portanto, acabam com maior chance de se tornarem adultos obesos.


A obesidade faz com que a insulina, um hormônio que guarda o açúcar que comemos dentro das células, não faça corretamente seus atos secretos. Esta resistência a insulina leva a uma epidemia de hipertensão, que já chega a 40% dos adultos. Esta “sofisticada quadrilha organizada” causa inflamação dos vasos e maior quantidade de derrame, infarto, e clientes no plano de saúde. Mas o efeito mais grave é a perda dos rins e a epidemia de insuficiência renal crônica e necessidade de hemodiálise.


Hoje, a principal causa de entrada de pacientes em diálise, no mundo, é o Diabetes. Depois a hipertensão. E a curva de crescimento segue mais veloz que corredor jamaicano.
Ora, a pergunta seguinte é se podemos prevenir? Até certo ponto, sim. É preciso que os médicos peçam, anualmente, um exame chamado microalbuminúria para todos os diabéticos tipo I a partir dos cinco anos de doença e no tipo II, à época do diagnóstico. Vejam bem. Se o exame for positivo e confirmado podemos intervir com medicamentos que custam menos de cinco reais/mês/tratamento e reduzir, prestem atenção leitores, em até 30% o risco dos diabéticos terem insuficiência renal.


Então se perguntem, olhando nos olhos que desejo que sejam muito beijados, antes da terra esconder, porque isto não acontece? Não rola porque os pacientes não conseguem fazer este exame pela rede pública. Nos laboratórios particulares ele custa R$40,00 enquanto o SUS paga desestimulantes R$ 8,12, o que não chega a ser uma verba de empreiteira.


Eu vos digo irmãos. Fora da microalbuminúria não tem salvação. È inadmissível que nossa rede pública não viabilize este exame. Aliás, deveria ser obrigatório sua realização em todos os diabéticos na rede municipal. Todos. Não podemos dizer que estamos tratando de forma correta, ética, os diabéticos, se não avaliamos seus rins. Acredito que o prefeito, médico, o Secretário de Saúde, o Presidente da Comissão de Saúde da Câmara, tomarão atitudes que garantam, de forma facilitada e na real medida da necessidade, a realização de microalbuminúria para diabéticos.


O valor repassado aos laboratórios não aumentará os custos da saúde, muito, muito pelo contrário, reduzirá a entrada de pacientes em hemodiálise e transplante renal e, portanto, os gastos.


Ou fazemos isto ou será melhor começarmos a criar dinossauros no quintal.

Um comentário:

  1. Excelente matéria!E vemos hj, no laboratório, um número pequeno de solicitações médicas de microalbuminúria, a grande maioria solicita apenas uréia e creatinina, mesmo para pacientes com diabetes ou insuficiencia renal, importantíssimo ter informado a importancia da dosagem de microalbuminúria como marcador de função renal e que governantes atentem ao problema.

    Hermínio Seixas - Farmacêutico Bioquímico

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