Gabriele com uma rosa -Renoir Cultivo-me debulhando miudezas e palavras como lavrador que, na sua lavoura de seca, debulha gotas de chuva como se fosse inundação, como quem debulha, no arreio da manhã, as cordas de feijão, para o cio de sua fome. Sou de mínimos recebimentos. Carrego o escasso na memória. O que me assoreia é não retribuir. Não tenho margens, esporeio os limites, só pelo mistério de reinventar. Enxergo, no que me é dado, por menor e sem adornos, o ofertório dos deuses, por minhas pequenezas de homem e humano. Esmiúço o joio, cato, viro rendeira, para tecer do menor grão de trigo, o meu pão. Guardo as dores, as ofensas de boca e ato, e amorteço-as, como quem cede seu corpo para as últimas rosas necessárias. O que me dão, de pouco, é farto, e que me tiram, de farto, é nada. Afinal, ela aparece de repente, linda e improvável, usando um vestidinho vermelho...
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